quarta-feira, 21 de maio de 2014

À Volta da India # 5: O Lobo em Varanasi, a Cidade dos Mortos

Continuando com as Crónicas da Viagem, do Lobo pela Índia, após a visita ao Rajastão, com especial destaque para Jaipur, a Cidade Cor-de-Rosa, seguimos para Varanasi, o local mais sagrado do hinduísmo. Localizada nas margens do Ganges, segundo a lenda, terá sido criada a partir de um dos dentes do tridente do próprio Lord Shiva, sendo uma das cidades mais antigas do mundo, com cerca de cinco mil anos de existência.

A ligação foi feita de comboio numa carruagem de 4ª classe. Obviamente que foram horas muito animadas, já que as janelas não tinham vidro e o meu cabelo ficou repleto de gafanhotos. Os “bancos” [que é como quem escreve, as tábuas] também não eram particularmente confortáveis, mas valeu pelo convívio com uma família indiana, que insistiu em tirar um monte de fotos connosco. Também, por um euro e nada, o que mais se podia exigir?

Varanasi não é uma cidade para ser visitada ou vivida, mas sim para ser sentida. Este é o local onde as famílias indianas levam os seus mortos para ser cremados, cujas suas cinzas são atiradas ao Ganges. A título de curiosidade, terá sido este o sítio escolhido para o funeral do Beatle, convertido ao Hinduísmo, George Harrison. Ao inspirarmos o primeiro ar do Ganges, rapidamente compreendemos os motivos que a levaram a ser considerada a cidade mais sagrada do país, já que a religião e o misticismo invadem cada recanto. Não diferindo da restante Índia, apresenta um trânsito absolutamente caótico, agravado pelo facto de possuir o maior número de Rickshaws de todo o país. As “estradas”, na sua maioria de terra batida, encontram-se pejadas de lixo e de excrementos das centenas de vacas sagradas que por lá deambulam.

Já que tínhamos por objetivo desfrutar, em pleno, a espiritualidade e os rituais Hindus, optámos por fazer um passeio de barco e ver o nascer do sol no rio. Assim, pelas 5.30h da matina, lá estávamos nós a entregar a nossa oferenda a Lord Shiva, composta por velas e flores. Confesso que este foi um dos momentos mais tocantes e marcantes da minha vida. Contemplar o nascer do Sol no Ganges, em toda a sua magnificência, é literalmente brutal, de cortar a respiração. Três cadáveres humanos a flutuar [sim, porque os pobres, as mulheres grávidas e os que morrem de veneno de cobra não podem ser queimados], piras com corpos a arder, e centenas de pessoas a tomar o banho sagrado, são momentos que jamais esquecerei.

Graças ao S., amigo indiano do meu irmão, tivemos, igualmente, o privilégio único de visitar os principais templos da cidade, de acordo com o preceito Hindu, e não como meros turistas, e observar de perto as piras crematórias. De salientar a cerimónia dedicada a Shiva, de nome Puja, que acontece todos os dias, pelas 19.00h, em Dashashwamedh-ghat, nas margens do Ganges, à qual tivemos a honra de assistir na fila da frente. Além da experiência espiritual única, Varanasi permitu-nos, também, beber o melhor e mais conhecido Lassi [bebida feita à base de iogurte] de toda a Índia, o qual é vendido num estabelecimento mínimo, o Blue Lassi .

Este foi, seguramente, o melhor e mais marcante local que visitei, até hoje, em toda a minha vida. Logo que possa, quero voltar, mas durante o Diwali, ou seja, o festival das luzes, que acontece a 24 de Outubro. Por favor, se forem à Índia, visitem Varanasi. Escutem o conselho do vosso amigo Lobo. É um sítio tão mágico e especial que vos vai tocar, para sempre, na alma e no coração [e olhem que não sou criatura dada a pieguice, por isso estas palavras carregam muito de verdade].


PS- Fotos para breve. As melhores que alguma vez tirei. 

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